A escritora Martha Medeiros está lançando um novo livro de crônicas: Feliz por nada reúne textos sobre família, amor e amizade.
Eis alguns pensamentos da autora que eu concordo e assino em baixo:
Felicidade
Quem consegue ser feliz sempre? Sem chance! Eu vejo a felicidade como uma soma de momentos, tanto os alegres como os tristes. Tristeza também pode fazer parte desse pacote. Ser feliz é justamente ter consciência de que nada é 100% satisfatório, que os períodos de baixa acontecem e que são provisórios. Felicidade é paz de espírito!
A realidade é o único obstáculo para a felicidade Felicidade é uma jornada não um lugar |
E digo ainda que só quem sabe o que é ser feliz, é quem teve momentos de tristeza, pois este sabe o valor e o sentido de ambos sentimentos. Sabe tirar o melhor de ambas situações: regojizar os bons momentos e superar os maus. Desconfie dos que se dizem sempre felizes... será que é mesmo felicidade ou ilusão?
Relacionamentos
Qualquer relação é sempre difícil e não tem receita mesmo. Claro que algumas coisas ajudam. Afinidades, bom humor, uma mesma visão de vida (ou ao menos parecida), sexo prazeroso. Sabemos de tudo isso, mas, na hora da convivência, os curtos-circuitos são inevitáveis, então é importante também ter paciência, muita paciência.
Eu acrescento também, respeito e tolerância (que é parecido com paciência mas não é a mesma coisa): elementos fundamentais para uma convivência, seja ela qual for, muitas vezes tão necessária quanto o valorizado amor!
Leia essa:
"Geralmente, quando uma pessoa exclama Estou tão feliz!, é porque engatou um
novo amor, conseguiu uma promoção, ganhou uma bolsa de estudos, perdeu os quilos
que precisava ou algo do tipo. Há sempre um porquê. Eu costumo torcer para que
essa felicidade dure um bom tempo, mas sei que as novidades envelhecem e que não
é seguro se sentir feliz apenas por atingimento de metas. Muito melhor é ser
feliz por nada.
Digamos: feliz porque maio recém começou e temos longos oito meses para fazer
de 2010 um ano memorável. Feliz por estar com as dívidas pagas. Feliz porque
alguém o elogiou. Feliz porque existe uma perspectiva de viagem daqui a alguns
meses. Feliz porque você não magoou ninguém hoje. Feliz porque daqui a pouco
será hora de dormir e não há lugar no mundo mais acolhedor do que sua cama.
Esquece. Mesmo sendo motivos prosaicos, isso ainda é ser feliz por muito.
Feliz por nada, nada mesmo?
Talvez passe pela total despreocupação com essa busca. Essa tal de felicidade
inferniza. "Faça isso, faça aquilo". A troco? Quem garante que todos chegam lá
pelo mesmo caminho?
Particularmente, gosto de quem tem compromisso com a alegria, que procura
relativizar as chatices diárias e se concentrar no que importa pra valer, e
assim alivia o seu cotidiano e não atormenta o dos outros. Mas não estando
alegre, é possível ser feliz também. Não estando "realizado", também. Estando
triste, felicíssimo igual. Porque felicidade é calma. Consciência. É ter talento
para aturar o inevitável, é tirar algum proveito do imprevisto, é ficar
debochadamente assombrado consigo próprio: como é que eu me meti nessa, como é
que foi acontecer comigo? Pois é, são os efeitos colaterais de se estar
vivo.
Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não
terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se
torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido
perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem.
Se é para ser mestre em alguma coisa, então que sejamos mestres em nos
libertar da patrulha do pensamento. De querer se adequar à sociedade e ao mesmo
tempo ser livre. Adequação e liberdade simultaneamente? É uma senhora ambição.
Demanda a energia de uma usina. Para que se consumir tanto?
A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa ter que responder ao
mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que
bicho seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o
que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de opinião sem a menor
culpa.
Ser feliz por nada talvez seja isso."
by Martha Medeiros
by Martha Medeiros
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