quinta-feira, 17 de maio de 2007

Ainda sobre o incêndio em SM

Roubei (descaradamente) um texto do Diário de Santa Maria.
Acho que descreve um pouco o tamanho da importância e da tristeza que esse fato tem em mim e, pelo visto, em outras tantas pessoas.

Crônica do dia
Sione Gomes - 17/05/2007

Oh, Centenário

Quando o taxista falou, eu não acreditei. Diante da minha incredulidade, ele repetiu: "O Colégio Centenário incendiou na madrugada". Perplexa, quis saber mais, especulei... Assim que consegui me liberar dos compromissos do início da manhã, fui lá ver. Não dava para acreditar sem ver. O moço disse que já tinha até passado na TV. Eu não sabia... acordei atrasada... não liguei nem rádio.

Perto das 9h30min desta quarta-feira, cinzenta pela chuva e pela notícia, focos de fumaça ainda saíam do sólido casarão construído à imagem das escolas e universidades norte-americanas. Fui mais uma dentre as muitas pessoas - alunos, professores, funcionários, ex-alunos, curiosos - que passaram pela esquina da Rua Dr. Turi com a Acampamento.

Por vários minutos, olhei para as paredes de tijolo à vista, agora desprovidas do que quer que não sejam escombros. Cinzas, pedaços de madeira, grades arrancadas, vidros quebrados... e vazio... ocupam o espaço que, desde aqueles tempos de criança, era a área administrativa da escola. Sei que, nestes dias, parte do prédio antigo, octogenário como a escola, era também de salas de aula e laboratórios. Na minha memória, ainda estava o corredor largo, emoldurado por fotografias e mais fotografias; o acesso para o internato, onde nós não tínhamos permissão para ir; a sala da dona Herta; o refeitório; o piano de calda.

O fogo também atingiu uma parte importante do meu imaginário de guria educada sob o teto instituído pelas duas missionárias norte-americanas. Todo ano, em março, mês que se iniciava com o recomeço das aulas e fechava com o
aniversário do colégio, relembrávamos a história de fundação protagonizada por miss Eunice Andrew e miss Louise Best. Percorríamos desde o começo modesto, numa casa pequena ali pertinho da esquina, até chegar à escola onde aprendíamos, brincávamos, orgulhávamo-nos.

Todo ano, ensaiávamos o hino que lembro
até hoje, verso por verso. Todo ano, e o ano todo, dizia aos quatro cantos que o lema da minha escola era "Educai a mente a pensar, o corpo a agir e o coração a sentir". Hoje, eu sinto.

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